Uma nespereira no quintal, um quintal na nespereira
O tempo das nêsperas já passou. Atrasei-me neste post, como às vezes me atraso a colher a fruta. Não importa: com ou sem fruta, elas continuam aí.
As nespereiras são dos quintais e são das pessoas, como as pessoas são dos quintais e estes delas. É um triângulo amoroso. É uma árvore doméstica por excelência — o que não quer dizer que não exista em ruas e pracetas, hortas, pomares, ao lado de poços, em terrenos abandonados. A Eriobotrya japonica é originária do sudeste asiático. Em Portugal, cresce um pouco por todo o lado, do que tenho visto. Em algumas regiões, no Norte, chamam-lhes magnórios.
Convivo com elas há tantos anos e tão familiarmente que nunca pensei muito no efeito que têm. Este ano, nuns dias que passei no Algarve, enquanto cobiçava as nêsperas (demasiado altas, demasiado longe, demasiado flagrante), tirei uma série de fotografias a nespereiras, em locais e de tamanhos diferentes.
A nespereira é uma árvore que dá boa sombra, dá bons frutos, tem bons ramos para o que for preciso. Mas cresce muito. Vive na nossa casa. É um daqueles bichos que primeiro se aninham algures num canto; que vemos crescer, embevecidos, regando sempre, mas logo tomam conta do espaço, ocupando o quintal, como um cão que não pára de crescer e que fica a transbordar da sua poltrona preferida (que às vezes também é a nossa).
Tenho ideia de que é uma planta um pouco fora de moda. Alguém pensa, hoje, em plantar uma nespereira no jardim?
É uma árvore densa, escura, com folhas duras e ásperas, recorte de melena comprida, desenhos firmes. Os cachos de flores são peludos. Floresce no Inverno, o que vale 20 pontos.
A nespereira não quer saber. Deram-lhe aquela terra, aquela luz. Cresce e dá frutos, sem fazer caso. Cresce à nossa volta. Um dia, quando nos damos conta, fazemos parte dela.