Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

GAZUA

GAZUA

Deus criou, o homem organizou: os bonecos que ajudam a arrumar o mundo

AG, 08.11.20

"Deus criou, Lineu organizou" - é uma expressão  que descreve bem o papel que o cientista sueco teve na forma como vemos hoje o mundo.

02_Systema_Naturae_cover_02.jpg

 

Numa ilustração do seu livro Systema Naturae, lá está ele, instalado no jardim do Éden, a pôr ordem na casa, a dizer o que é isto e o que é aquilo, e como se há-de chamar às coisas. Sempre achei que me teria dado bem com Lineu. Lembro-me perfeitamente do fascínio que senti quando, talvez com uns 11 anos, aprendi na escola o seu sistema de classificação dos seres vivos.

Até hoje continuo a coleccionar  com carinho  alguns esquemas bem pensados que vou encontrando por aí. Aqui ficam quatro.

 

Lineu e a classificação das espécies

É a Lineu que devemos o sistema de classificação das espécies em uso ainda hoje - a taxinomia binária que identifica cada espécie com duas palavras: uma para identificar o género, outra para restringir e identificar a espécie. Por exemplo, Quercus suber (o sobreiro). E cada planta, animal, ou outro ser vivo está bem arrumadinho dentro duma hierarquia, numa árvore que se vai dividindo em ramos cada vez mais finos.

Podemos não sentir grande comoção ao olharmos, hoje, para o resultado visual dessa taxonomia, se for como esta imagem.

1024px-Linnaeus_-_Regnum_Animale_(1735).png

Mas se fizermos como Ernst Haeckel e mostrarmos esta organização como uma árvore, torna-se mais bonito - e a ideia fica mais clara.

Haeckel_Tree_2K-1110x1720.jpg

A ideia de que se podem organizar todos os seres vivos usando um esquema tão simples fascina-me. Mesmo que, desde os tempos de Lineu, muita coisa tenha mudado nesta classificação, criando algumas dores de cabeça aos cientistas.

 

Como resolver as relações de parentesco em três pauzinhos

Uma professora de antropologia mostrou-nos uma vez, numa aula, o sistema que representa as relações possíveis entre os seres humanos unidos por graus de parentesco. Trata-se de um conjunto de apenas três símbolos que permitem saber quem é filho de quem, casado com quem, e irmão de quem. A partir destes três, todos os avós, primos e demais família alargada são deduzidos.

Os símbolos são usados - e estão ligados entre si - como se exemplifica no diagrama abaixo. Basicamente: |______| indica uma relação de casamento (ou equivalente); um traço vertical liga o casal aos seus descendentes; e um sinal igual ao do casamento, mas invertido, junta os irmãos. E com isto, imaginem, podem fazer a vossa árvore genealógica por gerações e gerações. Se juntarem o pai ou mãe a outra pessoa usando o símbolo de irmãos, fazem crescer este diagrama com os tios, podendo ainda incluir muito mais família

parentesco.jpg

Há depois alguns outros símbolos (como os círculos ou triângulos para identificar o género, e outros mais), mas aqueles três garantem que toda a estrutura de parentesco está lá.

 

Como dizer o que querem dizer as palavras

Mais uma coisa que aprendi na escola - neste caso, na universidade. Um professor de linguística, que tinha trabalhado na criação de um dicionário, explicou-nos que um dos métodos de chegar à definição de um termo era ir fazendo perguntas e avançando com base nas respostas - um esquema não muito diferente do de Lineu, na verdade.

Um exemplo simples: a palavra lago. Temos de encontrar um conceito de partida que faça sentido, e que aqui pode ser água.

Pergunta 1: é doce ou salgada? Se escolhemos doce, já temos mais um termo para a nossa definição e já limitamos o conjunto de perguntas com as quais faz sentido continuar.

Pergunta 2: é água corrente ou parada? Se dissermos que é parada, já sabemos que não é um rio.

Pergunta 3: é de dimensão pequena, média ou grande? Se quisermos distingui-lo de um charco, por exemplo, diremos média ou grande.

E por aí fora. Com estas três perguntas temos a uma definição que já se parece com qualquer coisa: um lago é uma quantidade de água doce, parada, de dimensão média ou grande.

O segredo, claro, é saber fazer as perguntas certas...

Bariloche-_Argentina2.jpgLago Bariloche, Argentina (só porque é bonito...). Imagem: Chipppy, licença CC BY-SA 4.0

 

Ir sempre por bons caminhos

O quarto exemplo é o das marcas que assinalam os trilhos e percursos de caminhada. Cruzei-me com eles pela primeira vez há uma série de anos, e percebi o seu enorme valor quando fiz a Via Algarviana. A ideia de que com um conjunto de apenas quatro sinais podia percorrer 300 km em caminhos isolados, por montes e vales do interior algarvio, sem precisar de outra orientação, deixou-me levemente eufórica. Na verdade, este sistema, com os percursos já marcados no terreno, permite-me ir daqui até à Roménia, mas fica para uma outra oportunidade.

Screen Shot 2020-11-08 at 23.58.50.png

 

É ou não é bonito? Palminhas para as pessoas que inventaram estas coisas simples, eficazes, úteis e elegantes.

 

 

 

 

 

 

1 comentário

Comentar post