Nem cangurus, nem aranhas: estes são os dois (ou três) animais da Austrália que gostava de ter visto
Marsupiais e animais venenosos: quando falamos da fauna australiana, quase sempre a conversa vai parar a estes dois grupos. Com alguma sorte, além dos cangurus e dos coalas talvez venham à baila os rechonchudos (e possantes) vombates.
Até porque os vombates têm uma característica muito curiosa. Mas sobre isso falamos lá mais para o fim; o tema principal deste texto é outro. Queria mostrar aqui duas pequenas, discretas e inofensivas criaturas que deixam o seu rasto na paisagem australiana. Tão pequenas que, na verdade, nunca as vi.
É como jogar golfe, mas ao contrário: o caranguejo que faz bolinhas
Se os sinais de alerta que há nos acessos a algumas praias australianas acabassem por traduzir-se, de facto, em ataques de crocodilos, eu teria sido uma presa facílima. É que, passados os momentos iniciais de medo ao atravessar os mangais e os carreiros ladeados de vegetação densa, quando pus os pés na areia a minha reacção foi de espanto, e nunca mais me lembrei dos crocodilos.
Ao longo de dezenas, centenas de metros, o areal estava coberto por minúsculas bolinhas de areia, não maiores do que bolas de esferovite, muitas vezes organizadas em padrões concêntricos a partir de um pequeno buraco. E com algumas faixas vazias a atravessar esses padrões. Nas fotos abaixo é fácil perceber.
Depois de uma pesquisa, fiquei a saber que os seus autores se chamam, em inglês, ‘sand bubbler crabs’, que é como quem diz ‘caranguejos de bolhinhas de areia’. Nome científico, segundo a Wikipedia: Scopimera globosa.
Estas pequenas criaturas alimentam-se filtrando a matéria orgânica (como o plâncton) que existe na areia molhada. Funciona assim: enfiam areia para dentro da boca, filtram os materiais comestíveis, e depois cospem bolinhas de areia. Muitas bolinhas de areia, como se pode ver. Grandes trabalhadores.
Não consegui ver nenhum destes caranguejos, mas o vídeo abaixo mostra-os em acção. Quanto às linhas vazias que cruzam estas grandes áreas que rodeiam cada toca, são caminhos de fuga que lhes permitem, se necessário, refugiar-se no buraco rapidamente. Depois, a água do mar vem e desfaz todos aqueles milhares e milhares de bolinhas.
A arte abstracta das traças rabiscadoras
Também não vi nunca o pequeno animal que marca, na casca dos eucaliptos, as linhas finíssimas e ziguezagueantes que podem ver na fotografia abaixo.
Foi só depois de regressar da viagem que fiquei a saber o que são: as pequenas larvas duma traça 'rabiscadora' (em inglês, ‘scribbly gum moth’). As larvas vão avançando por dentro do tecido exterior do caule da árvore e esta cria depois uma espécie de cicatriz ao longo desse percurso. Podemos dizer, portanto, que estas linhas delicadas são os caminhos que as larvas destas Ogmograptis scribula vão deixando na superfície dos eucaliptos onde vivem.
Então e os vombates?
Pois é, os vombates. Não são venenosos nem dão grandes saltos. Nem fazem desenhos nas árvores, e muito menos bolinhas de areia. Mas, em compensação, fazem cocós em forma de cubo. É mesmo verdade.
Imagem: JJ Harrison (jjharrison89@facebook.com) - Own work, CC BY-SA 3.0,